É evidente que a cruz é um símbolo central do cristianismo. Há, porém, teólogos que discordam disso. “Cruzes são adequadas nos cemitérios, sobre tumbas. Não é o caso de Jesus, que deixou vazio o seu túmulo de pedra’. (Frei Beto). Certamente o significado da cruz é inegável, mas ela não deveria ser o centro e sim a ressurreição. Costumamos, às vezes, anunciar o Jesus crucificado e esquecemo-nos da sua vitória. A cruz foi adotada devido às perseguições aos primeiros cristãos por parte do Império Romano. Ela pode lembrar resistência, mas não é o fim. Não é para determos nosso olhar nela, pois ela aponta outra coisa maior. Aqui deveria ter outro símbolo capaz de superar o da cruz.
O povo do mundo, em especial da América latina grita na cruz pedindo misericórdia. Grita a maioria à minoria mantenedora do poder, do saber e do prazer; Grita a juventude sem perspectivas, vítima de chacinas continuamente; grita o sem terra ao latifundiário; grita o índio, jogado as margens, às autoridades políticas; grito o sem teto, o morador de rua sofrendo fome, vítima de uma exclusão social crônica. Temos que “Descer da cruz o pobre” (Titulo de um livro publicado recentemente). Temos que dizer “basta” nos colocando como denunciadores dessas injustiças, se necessário sendo cirineus. “ Este mundo é uma imensa cruz. E uma injusta cruz para milhões de inocentes que morrem nas mãos de verdugos, são “povos inteiros crucificados” (Jon Sobrino). Portanto, a cruz é visível nesta dura realidade. Muitos são crucificados continuamente por um sistema cruel chamado capitalismo. Como, pois, anunciar a cruz a quem já a carrega?
Que Deus, pois deve ser anunciado aos que estão morrendo na cruz? O Jesus crucificado ou o Ressuscitado? A ressurreição é o alicerce fundante de nossa fé. Pois, ela é a expressão de vitória de Cristo. Todavia não podemos entendê-la como apenas um fim e sim como um processo continuo. Está acontecendo, como a semente que brota a cepa silenciosa e paulatinamente por baixo do chão. É a intervenção do Deus da vida na história, nunca abandonou o seu povo e jamais vai abandonar. Os que vivem sob o jugo do peso da cruz e conservam uma fé firme no libertador entendem isto. Sabem que tudo isso passará.
O verdadeiro significado da ressurreição não é encontrado nas imagens e senas triunfais de reavivamento de um corpo nos finais de filmes, nas peças teatrais sobre a paixão e ressurreição de Jesus Cristo, mas é na força de subsistência daquela família que consegue sustentar 6 filhos com menos de um salário, é naquela criança que com todas as dificuldades insiste em nascer e no sorriso da mãe que ver o seu filho nascido; É naquele grupo que se organiza para reivindicar direitos sociais; é naquele/a jovem que ousa denunciar abusos de poder e autoridade; É naquela comunidade mesmo diante das crises econômicas que se reuni para festejar a vida; é na entrega da vida por vidas de um Dom Oscar Romero, um Chico Mendes, uma irmã Dorothy .
Tudo isto faz parte da nossa páscoa. Somos teimosos, insistimos em viver mesmo que alguns não queiram. “Toda a vida humana possui estrutura pascal. Toda ela é feita de crises que significam passagens e processos de acrisolamento a e amadurecimento”. (Leornardo Boff). O nosso Deus é o Deus pascal. Ele está agindo como outrora libertara o seu povo da opressão do faraó.
Ernande Arcanjo
Assessoria da Pastoral da Juventude
Caucaia - Ceará
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