quarta-feira, 7 de abril de 2010

Para entender a cruz e a ressurreição

Quando estava em missão por três dias em uma comunidade da Paróquia na qual atuo, chamou-me atenção, ao entrar na Igreja, uma cruz com Jesus, próxima ao altar, bem diferente das outras, Jesus demonstrava aspecto de alegria, numa posição como se estivesse saindo da cruz. Fiquei extasiado. Falei para o padre que litúrgica e teologicamente aquela imagem daria mais sentido às celebrações...

É evidente que a cruz é um símbolo central do cristianismo. Há, porém, teólogos que discordam disso. “Cruzes são adequadas nos cemitérios, sobre tumbas. Não é o caso de Jesus, que deixou vazio o seu túmulo de pedra’. (Frei Beto). Certamente o significado da cruz é inegável, mas ela não deveria ser o centro e sim a ressurreição. Costumamos, às vezes, anunciar o Jesus crucificado e esquecemo-nos da sua vitória. A cruz foi adotada devido às perseguições aos primeiros cristãos por parte do Império Romano. Ela pode lembrar resistência, mas não é o fim. Não é para determos nosso olhar nela, pois ela aponta outra coisa maior. Aqui deveria ter outro símbolo capaz de superar o da cruz.

O povo do mundo, em especial da América latina grita na cruz pedindo misericórdia. Grita a maioria à minoria mantenedora do poder, do saber e do prazer; Grita a juventude sem perspectivas, vítima de chacinas continuamente; grita o sem terra ao latifundiário; grita o índio, jogado as margens, às autoridades políticas; grito o sem teto, o morador de rua sofrendo fome, vítima de uma exclusão social crônica. Temos que “Descer da cruz o pobre” (Titulo de um livro publicado recentemente). Temos que dizer “basta” nos colocando como denunciadores dessas injustiças, se necessário sendo cirineus. “ Este mundo é uma imensa cruz. E uma injusta cruz para milhões de inocentes que morrem nas mãos de verdugos, são “povos inteiros crucificados” (Jon Sobrino). Portanto, a cruz é visível nesta dura realidade. Muitos são crucificados continuamente por um sistema cruel chamado capitalismo. Como, pois, anunciar a cruz a quem já a carrega?

Que Deus, pois deve ser anunciado aos que estão morrendo na cruz? O Jesus crucificado ou o Ressuscitado? A ressurreição é o alicerce fundante de nossa fé. Pois, ela é a expressão de vitória de Cristo. Todavia não podemos entendê-la como apenas um fim e sim como um processo continuo. Está acontecendo, como a semente que brota a cepa silenciosa e paulatinamente por baixo do chão. É a intervenção do Deus da vida na história, nunca abandonou o seu povo e jamais vai abandonar. Os que vivem sob o jugo do peso da cruz e conservam uma fé firme no libertador entendem isto. Sabem que tudo isso passará.

O verdadeiro significado da ressurreição não é encontrado nas imagens e senas triunfais de reavivamento de um corpo nos finais de filmes, nas peças teatrais sobre a paixão e ressurreição de Jesus Cristo, mas é na força de subsistência daquela família que consegue sustentar 6 filhos com menos de um salário, é naquela criança que com todas as dificuldades insiste em nascer e no sorriso da mãe que ver o seu filho nascido; É naquele grupo que se organiza para reivindicar direitos sociais; é naquele/a jovem que ousa denunciar abusos de poder e autoridade; É naquela comunidade mesmo diante das crises econômicas que se reuni para festejar a vida; é na entrega da vida por vidas de um Dom Oscar Romero, um Chico Mendes, uma irmã Dorothy .

Tudo isto faz parte da nossa páscoa. Somos teimosos, insistimos em viver mesmo que alguns não queiram. “Toda a vida humana possui estrutura pascal. Toda ela é feita de crises que significam passagens e processos de acrisolamento a e amadurecimento”. (Leornardo Boff). O nosso Deus é o Deus pascal. Ele está agindo como outrora libertara o seu povo da opressão do faraó.


Ernande Arcanjo
Assessoria da Pastoral da Juventude
Caucaia - Ceará

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